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Criança fazendo inalação com nebulizador

O uso intermitente de corticosteroide inalatório

20 minutos

O uso intermitente de corticosteroide inalatório é uma alternativa eficaz para pré-escolares com asma intermitente, reduzindo exacerbações graves associadas a infecções respiratórias.
 
No caso apresentado abaixo, um menino de 4 anos com histórico de crises ocasionais, sem limitação fora dos episódios, foi tratado com beclometasona em nebulização por 7 dias ao primeiro sinal de infecção. Após seis meses de acompanhamento, o esquema intermitente mostrou-se eficaz, evitando o uso de corticosteroide oral e garantindo melhor controle das crises.

Conheça mais sobre o médico:

Dr. Gustavo Falbo Wandalsen

Professor Associado da Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP e Coordenador do Programa de Pós-graduação em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria da UNIFESP

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Caso Clínico

Criança em idade pré-escolar (4 anos), do sexo masculino, apresentava episódios recorrentes de sibilância, tosse e dispneia. Os pais relataram que essas crises ocorriam desde os 2 anos de idade, sempre associadas a gripe ou resfriado. Os episódios aconteciam de duas a três vezes por ano, sem necessidade de hospitalização, mas com duração de cerca de 1 semana. Durante as crises, o paciente utilizava broncodilatador inalatório e em quase todos os episódios recebia corticosteroide oral, em cursos curtos, após atendimento em serviço de urgência. Fora das crises,o pré-escolar era praticamente assintomático, não tinha limitação de atividades físicas nem sintomas noturnos.
 
Tinha sintomas nasais de coriza, prurido e espirros de forma ocasional, sem obstrução nasal.
 
Como antecedentes familiares, a mãe relatou asma e rinite alérgica. Moravam em apartamento arejado, sem animais domésticos e sem tabagistas. Ao exame físico, o paciente apresentou-se em bom estado geral, eupneico e corado. Uma rinoscopia anterior mostrou palidez de mucosa nasal. A ausculta pulmonar e a cardíaca se mostraram normais. O restante do exame não tinha alterações

Discussão

O caso apresentado é de um pré-escolar com asma intermitente. O diagnóstico de asma nessa faixa etária pode ser definido pela presença dos sintomas típicos e de fatores de risco de asma, exclusão de outros diagnósticos e boa resposta à terapia para a asma.¹ Em relação aos sintomas, a presença de tosse, dispneia e sibilos – todos eles observados principalmente durante infecções de via aérea superior, como no caso apresentado aqui, e após atividades físicas – é sugestiva de asma.¹ A história familiar de asma, especialmente nos pais, e a presença de outras doenças alérgicas, como dermatite atópica e alergia alimentar, são fatores de risco de asma bem estabelecidos, assim como a eosinofilia sérica e a sensibilização alérgica.¹
 
Diversos índices e escores também foram desenvolvidos para auxiliar o diagnóstico de asma em crianças pequenas. Entre eles, o Asthma Predictive Index (API) e o API modificado estão entre os mais conhecidos e empregados. (Tabela 1)
 
Tais índices são considerados positivos quando um critério maior ou 2 critérios menores estão presentes em lactentes ou pré-escolares com sibilância recorrente (≥3 exacerbações no último ano).¹ ² Por ambos os índices, o pré-escolar aqui apresentado teria critérios positivos de asma, considerando-se como critérios maiores a presença de asma na mãe e a sensibilização alérgica e como critérios menores a presença de rinite e a eosinofilia.²

De acordo com a GINA, a opção preferencial para início de tratamento de pré-escolares com asma persistente é a introdução de corticosteroide inalatório em dose baixa.¹ Essa opção, entretanto, é particularmente desafiadora em crianças com asma intermitente, oligossintomáticas ou assintomáticas entre as exacerbações, como no caso apresentado. A adesão ao tratamento costuma ser baixa nesses casos, especialmente após a ausência de sintomas ou exacerbações por alguns meses. Uma opção sugerida pela GINA e ainda pouco utilizada em nosso meio é o uso intermitente de doses altas de corticosteroide inalatório durante os episódios de infecção respiratória.¹

Corticosteroide inalatório intermitente na asma intermitente

A asma intermitente é um fenótipo muito comum entre pré-escolares, caracterizado por exacerbações desencadeadas por infecções respiratórias virais e, por isso, também frequentemente denominado sibilância viral.¹ Diversos ensaios clínicos já investigaram a ação do corticosteroide inalatório em doses altas por 7 a 10 dias, iniciados ao primeiro sinal de infecções respiratórias.⁴

 

Há alguns anos, uma metanálise avaliou diversas estratégias de prevenção de exacerbações em pré--escolares sibilantes, dividindo os ensaios clínicos com base em fenótipos de asma e sibilância.⁵ Para asma intermitente/sibilância viral, definida pela ausência de limitação de atividades e de sintomas noturnos e baixo uso de medicação de resgate e para sintomas, ⁵ ensaios clínicos, que envolveram 422 participantes, foram incluídos na análise.⁵ O uso intermitente de corticosteroide inalatório em altas doses foi significantemente superior ao uso de placebo, reduzindo exacerbações graves em 35% (IC de 95%: 19%-49%).⁵ (Figura 1)

Beclometasona em suspensão para nebulização

A beclometasona em suspensão para nebulização é um corticosteroide inalatório bastante conhecido, disponível no mercado brasileiro há muitos anos e indicado para prevenção e tratamento da asma emcrianças e adultos.⁶ É comercializado em flaconetes de 2 mL, que contêm 400 mcg de beclometasona por mililitro, e não deve ser administrado em nebulizadores ultrassônicos.⁶

 

Um ensaio clínico avaliou e comparou a eficácia de 2 esquemas terapêuticos com beclometasona em suspensão para nebulização em lactentes e pré-escolares de 1 a 4 anos de idade com sibilância frequente (ou seja, 3 exacerbações nos últimos 6 meses e sintomas frequentes).⁷ As 276 crianças incluídas no estudo foram acompanhadas por 3 meses e divididas em 3 grupos de tratamento: (1) beclometasona 400 mcg duas vezes ao dia e salbutamol se necessário (s/n); (2) beclometasona 800 mcg e salbutamol s/n; e (3) salbutamol s/n.⁷

O uso diário de beclometasona foi o esquema com maior porcentagem de dias livres de sintomas, desfecho principal do estudo.⁷ Apesar disso, o uso intermitente de beclometasona foi semelhante ao uso diário em diversos desfechos, como a porcentagem de dias livres de sintomas no último mês de tratamento, o escore de sintomas diurnos e noturnos, o uso de medicação de resgate e o tempo até a primeira exacerbação com necessidade de corticosteroide oral.⁷

 

Além disso, o grupo tratado com beclometasona de forma intermitente foi significantemente superior ao grupo que recebeu salbutamol s/n na porcentagem de dias livres de sintomas observada no último mês de tratamento e nos escores de sintomas diurnos e noturnos.⁷ Cabe destacar que o perfil de crianças incluídas nesse estudo está próximo do fenótipo de asma persistente e diverge do perfil do caso clínico apresentado.⁷

Conduta e seguimento do caso

O pré-escolar foi orientado a utilizar beclometasona em suspensão para nebulização na dose de 400 mcg duas vezes ao dia por 7 dias, a ser iniciada aos primeiros sinais de infecções de via aérea superior e manter uso s/n de agonista beta-2.

 

No período de 6 meses após a introdução da terapia intermitente com corticoesteroide inalatório, o paciente não teve exacerbação grave que demandou utilização de corticoesteroide oral. Os pais contaram que a beclometasona em nebulização fora usada em três ocasiões: uma diante da ocorrência de sintomas leves de broncoespasmo e as outras duas em momentos de crise; em todas, o controle foi obtido apenas com broncodilatador

Referências

1. Global Initiative for Asthma – GINA [homepage na internet]. Global strategy for asthma management and prevention. 2024 [acessoem 10 set 2024]. Disponível em: www.ginasthma.org. 2. Castro-Rodríguez J, Holberg C, Wright A, Martinez F. A clinical index to define risk ofasthma in young children with recurrent wheezing. Am J Respir Crit Care Med. 2000;162:1403-6. 3. Guilbert T, Morgan W, Zeiger R, Bacharier L,Boehmer S, Krawiec M, et al. Atopic characteristics of children with recurrent wheezing at high risk for the development of childhood asthma. JAllergy Clin Immunol. 2004;114:1282-7. 4. Jackson D, Bacharier L. Inhaled corticosteroids for the prevention of asthma. Ann Allergy Asthma Immunol.2021;127:524-9. 5. Kaiser S, Huynh T, Bacharier L, Rosenthal J, Bakel L, Parkin P, et al. Preventing exacerbations in preschoolers with recurrentwheeze: a meta-analysis. Pediatrics. 2016;137:e20154496. 6. Bula Clenil A (dipropionato de beclometasona sulfato de salbutamol). [Bula]. ChiesiFarmacêutica Ltda. 7. Papi A, Nicolini G, Baraldi E, Boner A, Cutrera R, Rossi G, et al. Regular vs prn nebulized treatment in wheeze preschoolchildren. Allergy. 2009;64:1463-71

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